Restauro da embarcação começa nas próximas semanas, e a previsão de liberação será em janeiro de 2025, ao custo de R$ 5,8 mi do governo federal
A embarcação Benjamim Guimarães é uma verdadeira relíquia da navegação fluvial brasileira, evocando um fascínio que transcende o tempo. O icônico vapor de 1913 foi o último exemplar entre os barcos de locomoção que navegaram pelo Rio São Francisco. Sua história está entrelaçada com a cultura e a economia do país, sendo um símbolo da era de ouro do transporte fluvial.
O fascínio pelo Benjamim Guimarães reside não apenas em sua construção robusta e elegante, mas também nas histórias que ele carrega. Durante décadas, o vapor foi um importante meio de transporte para mercadorias e passageiros, conectando comunidades ribeirinhas e promovendo o comércio e a troca cultural. A cada viagem, entre Pirapora e Juazeiro, na Bahia, ele se tornava um elo entre o passado e o presente, transportando não apenas pessoas, mas também tradições e memórias.
Em breve, os moradores e turistas poderão navegar a bordo do icônico vapor Benjamim Guimarães, um barco centenário tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha) como patrimônio cultural de Minas Gerais. Depois de 10 anos parado, nas próximas semanas ele vai ser reformado, finalmente, pela Eletrobras. “Era para as reformas terem começado há trinta dias, a equipe do restauro já está na cidade. Foi a própria Eletrobras e o Ministério de Minas e Energia que aconselharam o prefeito a fazer um edital e contratar uma consultoria para fiscalizar a verba. As negociações envolveram o governo de Minas, Iepha, Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e Ministério Público Estadual, e a previsão que ele volte a navegar daqui a quatro meses”, comemora Adélio Brasil, diretor de patrimônio histórico e cultural de Pirapora.
Demora
O processo de restauração do barco a vapor Benjamim Guimarães, que já se arrasta há uma década, ganha importância extra e uma nova promessa de que, finalmente, vai sair do papel. Depois de acordos, definições e descumprimentos de prazo, segundo a Prefeitura de Pirapora, no Norte de Minas, proprietária da embarcação, a previsão é de que em janeiro de 2025 o barco seja finalmente entregue à população.
Com isso, a preservação do Benjamim Guimarães ganhou ainda mais importância. A embarcação foi tombada em 1985 pelo Iepha. Desde 2013, o processo de restauração se arrasta sem definição. O Iepha informou, em nota em janeiro deste ano, que “já realizou a entrega do projeto completo de restauração, flutuabilidade e navegabilidade do Vapor Benjamin Guimarães. E a sua execução se encontra a cargo da prefeitura municipal de Pirapora que é sua proprietária e responsável pela execução da restauração”.
Inicialmente, os recursos para a reforma seriam custeados pelo Executivo municipal, via financiamento pelo Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG). Agora, um acordo feito com o Ministério de Minas e Energia, a Eletrobras assume empreitada do projeto de restauração. A Prefeitura de Pirapora informou que os custos total (reforma mais a fiscalização da obra) serão em torno de R$ 5,8 milhões e a previsão, diz o município, é que até janeiro do próximo ano o serviço esteja concluído e a embarcação, liberada.
Mistérios
Os mistérios que cercam o Benjamim Guimarães são igualmente intrigantes. Muitas histórias de aventuras, desafios e até mesmo lendas urbanas foram tecidas ao seu redor. Os relatos de suas viagens muitas vezes incluem encontros com a natureza exuberante do Brasil, como as tempestades repentinas que podiam ameaçar sua navegação ou os encontros com a fauna local. Além disso, o vapor é um testemunho da engenhosidade humana, refletindo as inovações tecnológicas da época e a adaptação dos navegantes às condições dos rios.
Quem visitar o barco vai ouvir o lamento da tripulação, mas poderá ouvir histórias curiosas, como o dia em que o Benjamim Guimarães foi atacado pelo bando de Virgulino Ferreira da Silva (1898-1938), o Lampião. Dizem que o grupo do cangaceiro planejou saquear a carga do vapor, atirando contra o barco. Mas o comandante conduziu o vapor para margem oposta, longe do alcance dos disparos.
Hoje, o Benjamim Guimarães não é apenas uma embarcação; é um patrimônio cultural que representa a luta e a resiliência de um povo. Seu legado continua a inspirar novas gerações, despertando curiosidade sobre a história da navegação fluvial e o papel que esses vapores desempenharam na formação do Brasil moderno. O fascínio e os mistérios do vapor Benjamim Guimarães permanecem vivos, convidando todos a explorar as águas da memória e a se perder nas histórias que ele ainda tem a contar.
História
Construído pelos armadores James Rees Sons & Co. em 1913, não se sabe o mês de batismo do navio. Ele chegou ao Brasil para servir à Amazon River Plate Company, no Rio Amazonas. Pelos trilhos da Central do Brasil, chegou desmontado a Pirapora, no fim da década de 1920, e recebeu o nome do pai do dono da empresa, Júlio Mourão Guimarães. Seria destinado ao transporte de passageiros na primeira e segunda classes, além de puxar lanchas a reboque com lenha, gado e outros tipos de carga.
Fonte: Destaque no Jornal Estado de Minas